Património

Azenha das Pesqueiras

“Esta azenha, construída em alvenaria de granito, tem planta rectangular, com 7,90 m x 5,90 m.
Dispõe de um postigo e uma porta, na frontaria norte, uma janela sobre o apoio da roda a sul, e outra a nascente. Não tem cobertura, a qual era um telhado de duas águas e era, originalmente, de telha de canudo nacional.
Nesta azenha só funcionou um casal de mós, servido pelo açude adjacente e em cunha como a
anterior, com a extensão de 30 m e largura de 4 m, que, à data do registo inicial, se encontrava em mau estado de conservação.
Foram moleiros nesta azenha o Ti Custódio José Teixeira (bisavô), Manuel José Teixeira (avô),
Bernardino José Teixeira (marido), e por último Maria Lucinda Freitas e Silva (Lucinda Moleira) que, em 1966, fechou pela última vez a porta desta azenha.
A azenha servia vasta clientela, de Barroselas, Tregosa, Carvoeiro e, no Verão, também da Vacaria (Carvoeiro) e de Portela Susã. As fornadas eram transportadas à cabeça e em carros de bois. Moía-se milho, centeio, trigo e também arroz (que dava uma farinha como “seda”) e, no tempo da fome, por alturas da II Guerra Mundial, moeu-se cevada e até graínha de uva, que dava um pão vermelho.
Era usual moer de noite e o moleiro tinha a companhia de outras pessoas que espadelavam linho para a mordomia e faziam socos à luz da candeia a petróleo ou do lampião.
As maquias eram aferidas em Viana do Castelo, sendo levadas pela Tia Inácia das “Cebolas”.
Pagava-se uma maquia por arroba. As mós eram picadas a cada oitos dias.
No interior desta azenha – mas em espaço autónomo – houve, em tempos, uma particularidade que se crê única em todo o vale do Neiva: a existência de uma turbina para produção de energia eléctrica a partir da força da água. O equipamento, invenção do Padre Luís Faria – proprietário da azenha – que por volta de 1915 aqui a instalou, produzia electricidade para a sua casa, distante cerca de 600 m a norte deste local, a qual se erguia nos terrenos onde hoje se levanta o Convento dos Missionários Passionistas de Barroselas. No local é visível ainda o canal que conduzia a água para a referida turbina.
A poente desta azenha, separado pelo antigo caminho, existe um imóvel em ruínas a que chamavam “Casa da Forja”, espaço onde se aguçavam os picos. Dispõe de uma porta, mais larga do que o habitual, a nascente e uma janela a sul, virada para o rio.
Na última actualização, mantinha-se o estado de abandono da azenha e da casa da forja, envoltos por heras, tendo melhorado contudo o do açude, devido a obras de beneficiação realizadas em 1998 por uma associação local. No seu interior, um bem talhado pé de mó encontrava-se arreado do seu assento, envolto em silvas e restos do telhado. O eixo e entrosga da azenha, que à data do registo original ainda se viam, tinham sido furtados. O conjunto de imóveis é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo que o recebeu, por doação, do Padre Luís Faria, aquando do seu falecimento, ocorrido em 1918.”
in “Rio Neiva – Rodas d’água e agro-sistema tradicional”, Rogério Barreto, Raimundo Castro, José Oliveira e Manuel Delfim Pereira (2013)

Outras designações: Azenha do Padre Luís ou do Bernardino

 

Localização:
Lugar das Boticas, Barroselas; Calçada das Pesqueiras, Durrães